terça-feira, 11 de agosto de 2009

Te devoro

Quer saber se quero outra vida???? Não... Não.
**

A minha ansiedade ainda me mata, tenho uma compusão horrível de querer tudo pra ontem... mas enfim coisas da vida... ando meio sensivel, ando meio a flor da pele e qualquer beijo de novela me faz suspirar, ando tão Djavan esses dias.
BEm tenho que ir mil coisas pra fazer, só pra não perder o hábito de escrever mesmo.
Te devoro.

p.s. Bugrinhaa te amoo

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Domingo...

Novas cores por aqui, tinha esquecido como vez em quando é bom acordar em um domingo chuvoso, com o canto mágico dos pássaros, um bálsamo sem igual e sem culpa apenas acender um cigarro, e ouvir o barulho da chuva que cai.

Novos tempos

To numa fase nova ... (ah finalmente), consegui me desprender de certos temores, de coisas que me doiam, pessoas, coisas, objetos, cheiros, cartas. Tarefa dura se desprender de coisas que outrora foram tao valiosas, tão importantes. Não que deixaram de ser, mas agora estão no lugar onde deveriam sempre estar, na memória, no passado, dentro da gaveta. Inverno. No dia em que fui mais feliz eu vi um avião....
Finalmente tive coragem de cortar os cabelos, mudar um pouco a ordem das coisas, trocar a marca de cigarros, abandonar aquele all star cinza surrado e cheio de lembranças. E finalmente por um ponto final em algumas coisas da minha vida, relações cionturbados, amores ma-tecidos, me sinto livre de antigos pesos. Pronto pra continuar e recomeçar.
Livre enfim e em paz.

sábado, 8 de agosto de 2009

E o rio continua

Incrivel ainda estarmos vivos, estranho depender da existencia de outras pessoas para continuarmos a nossa... Preciso continuar, rir pra não chorar, so vou voltar quando me encontrar.
Sei la ando meio qualquer coisa, vontade de sumir, me dar um tiro.... mas hesito, continuo com um maço de cigarros, novos-velhos tempos e uma saudade medonha de uma menina de cachinhos de chocolate e olhar de jabuticaba madura..

Fodam-se os outros comigo sempre foi tudo ao contrario!!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Resposta

Penso também outra coisa de gente grande: não adianta muito você se enfeitar todo pra uma pessoa gostar mais de você. Porque, se ela gostar, vai gostar de qualquer jeito, do jeito que você é mesmo, sem brilhos falsos

Alguma coisa nesses dias frios

Não é saudade, porque para mim a vida é dinâmica e nunca lamento o que se perdeu - mas é sem dúvida uma sensação muito clara de que a vida escorre talvez rápida demais e, a cada momento, tudo se perde.
**
Viver agora, tarefa dura. De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã. Mas o poço não tem fundo, persiste sempre por trás, as cobras no fundo enleadas na lança.
**

terça-feira, 21 de julho de 2009

“A tristeza me recobre
E mando a cerveja goela abaixo
Peço uma bebida forte
Rápido
Para adquirir a garra e o amor
deContinuar!”

sábado, 18 de julho de 2009

Leve DEsespero

Perdido com um maço de cigarros pela mata escura;Algo dentro começa a doer demais, e só.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Bolha de sabão

A estrutura da bolha de sabão
Mas e a estrutura? ‘A estrutura’, ele insistia. E seu gesto delgado de envolvimento e fuga parecia tocar mas guardava distância, cuidado, cuidadinho, ô! a paciência. A paixão. No escuro eu sentia essa paixão contornando sutilíssima meu corpo. Estou me espiritualizando, eu disse e ele riu fazendo fremir os dedos-asas, a mão distendida imitando libélula na superfície da água mas sem se comprometer com o fundo, divagações à flor da pele, ô! amor de ritual sem sangue. Sem grito. Amor de transparências e membranas, condenado à ruptura.

Caio, Clarice e Lygia

Muitos versos do Caio tem me perseguido, alem de minha nova paixão dentro da literatura
Lygia Fagundes Telles, com Ciranda de Pedra um soco a cada página, e Clarice sim Clarice também anda me povoando.

Termino aqui com um trecho de um conto de Lygia:

No mármore do criado-mudo, um charuto que foi queimando sozinho até virar essa casca de cinza guardando a forma antiga. Minhas pernas ainda tremiam e meus olhos estavam inundados, mas a tontura tinha passado. Chego a estender a mão para tocá-la na despedida e nem completo o gesto, Bye, Dolly. Volto para a saleta e vejo a vitrola aberta, a agulha estatelada no meio do disco. Tropeço num cinzeiro e encontro a Maria Antonieta descabeçada debaixo da mesa. Quando a levantei, vi o sangue na minha luva.
“Eu não sei. Eu sei fingir que sei. Eu finjo bem. Eu finjo tanto que quase acredito. Envolvo minhas mentiras e meus fingimentos pra conseguir ser feliz com o pouco que sei que vou receber. E se vier mais? Eu me desconserto.”

**

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania.

Solitario apenas

:
“A tristeza me recobre

E mando a cerveja goela abaixo

Peço uma bebida forte

Rápido

Para adquirir a garra e o amor de

Continuar!”

Poeira....

“Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo porque não aguenta o fato de estar sozinho.

....


Um soco fundo no estomago.

Versos em uma noite suja

À duração da minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante:reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios..."
**
Uma lira nula,reduzida ao puro mínimo,um piscar do espírito,a única coisa única.

**

Cansado

Não tenho feito muita coisa, so lendo, escrevendo poucas linhas, e fumado quase sem parar,

ferias entediantess!!!!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Não sentir apenas

"As coisas e as pessoas que fazem parte da minha vida vão aos poucos entrando em mim, depois de algum tempo já não sei dizer o que é meu e o que é delas. Mesmo assim, bem no fundo, há coisas que são só minhas. E embora me assustem às vezes, é delas que mais gosto. Como essa vontade de acabar com tudo, que me dá de vez em quando."
**
Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir ,que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem..."

Pequenas coisas.

"...quando passo por lá assim rapidamente, numa tarde como a de ontem ou outras iguais destes tantos meses passados, penso se não deveria retomá-la, essa rua, essa caminhada, mas sem ele agora- uma tarde, noite ou manhã quaisquer para refazer o percurso inverso atá a casa dele, onde nem mora mais. E parado naquela esquina feito espião, contemplar a sacada daquele décimo andar onde costumávamos nos debruçar abraçados para olhar aquela rua lá embaixo sendo aos poucos coberta pelas sombras da tarde furando a copa-túnel das árvores. As sombras que crescem devagar sobre o asfalto quente do verão passado. As sombras, enfim."
**
"Engraçado, não gosto do meu quarto - das paredes, dos móveis -, mas gosto demais das coisas que posso ver pela janela. Das coisas que estão fora dele, porque o que está aqui dentro eu acho muito parecido comigo. E eu não gosto de mim."

Trechos...

"...temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças, mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias..."

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"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."
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Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo"

Que seja doce.

"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada."

LINDA, UMA HISTÓRIA HORRÍVEL

Que idade ela tem? ele perguntou. Que esse era o melhor jeito de chegar ao fundo: pelos caminhos transversos, pelas perguntas banais. Por trás do jeito azedo, das flores roxas do robe.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Fragmentos de Caio

Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.

Carta aos pais Caio F.

São Paulo, 12 de agosto de 1987.
Querida mãe, querido pai,Não sei mais conviver com as pessoas. Tenho medo de uma casa cheia de pais e mães e irmãos e sobrinhos e cunhados e cunhadas. Tenho vivido tão só durante tantos – quase 40 – anos. Devo estar acostumado.
Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês – que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio – que é tão ou mais delicado.Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como “eu gosto de você”. Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.
Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.
Amo vocês, seu filho,Caio.

ps; Uma pequena homenagem, a esse pequeno- monstro que amo tanto.

Ainda não consigui morrer

Tão próxima da minha a cara do meu horror de verme vivo, seria fácil ir com ela. Mergulhar em alívio no buraco negro meu de bicho vil, no meu pedantismo de animal aculturado. Para sempre ir. Para o outro lado, onde? Eu não quis. Ou foi Deus que não deixou? Não era hora ou Deus nem tem nada a ver com isso ou qualquer outra coisa, e sequer existe. Não sei. Sei, sem dúvida, que a vi. Depois, emergindo do coma artificial da morfina, cateteres enfiados nas veias, nunca mais a vi. Pelos corredores sangrentos das CTIs, pelos brancos labirintos hospitalares, empurrando macas, fazendo curativos, em nenhum lugar estava mais. Desapareceu. Não temo que volte um dia. E voltará, sina de todo o humano. E sei, sabemos perfeitamente que é essa cara nossa de cada dia, sempre à espreita. Alguém-Ninguém parece despertar. Como se chamava? Pergunta. Respondo em voz tão baixa que nem sei se chego a falar. Nem é preciso.

No vácuo de mim

(Silêncio)
- Por favor.
- Por favor o que?
- Não se mate.
- Ah, esquece. O sol está indo embora. Só falta um terço dele.
- Ninguém se mata por amor.
- Agora só tem uma lasquinha dele, bem vermelhinha.
- Olha, uma vez eu li um cara, um escritor chamado Cesare Pavese, que dizia assim: “Ninguém se suicida por amor. Suicida-se porque o amor, não importa qual seja, nos revela na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado desarmado, no nosso nada.”
- E o que aconteceu com ele, esse tal Cesare?
- Se matou.
(Silêncio)

Desespero

No vácuo de mim eu me despenco. Porque seria preciso também abdicar de mim mesmo para novamente reconstruir-me. Tornar a escolher os gestos, as palavras, em cada momento decidir qual dos meus eus assumir. Já esfacelei meu ser, já escolhi as porções que me são conveninentes esquecendo deliberado as outras. E são elas - serão elas? - que agora se movimentam revoltadas, pedindo passagem em gritos mudos, na ânsia de transcender limites, violentar fronteiras, arrebentando para a manhã de sol. O tremular da chama é um aceno, convite para chegar à verdade última e íntima de cada coisa.Não quero. Não posso restar nu, despojado de mim mesmo. Não posso recomeçar porque tudo soaria falso e inútil. As minhas verdades me bastam, mesmo sendo mentiras. Não é mais tempo de reconstruir.Em luta, meus ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Porque pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja a existência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver.Sôfrego, torno a anexar a mim esse monólogo rebelde, essa aceitação ingênua de quem não sabe que viver é, constantemente, construir, não derrubar. De que não sabe que esse prolongado construir implica em erros, e saber vivier implica em não valorizar esses erros, ou suavizá-los, distorcê-los ou mesmo eliminá-los para que o restante da construção não seja abalado. Basta uma pausa, um pensamento mais prolongado para que tudo caia por terra. Recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa única existência. Por isso me esquivo, deslizo por entre as chamas do pequeno fogo, porque elas queimam. E queimar também destrói…“

Além do ponto

Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada (…) tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir, mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, que me abriria a porta, o sax gemido ao fundo e quem sabe uma lareira, pinhões, vinho quente com cravo e canela, essas coisas do inverno, e mais ainda, eu precisava deter a vontade de voltar atrás ou ficar parado, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas.

Sem ùltimas esperanças...

Sei lá, que eu ando. Muito triste. Uma merda, tudo isso. Mas não importa, não me interrompa agora. Deixa eu falar, por favor, deixa eu falar. Tem uma coisa dentro de mim que continua dormindo quando eu acordo, lá longe de mim. (…) agora vou ter que voltar a pé para casa mas que importa, volto a pé mesmo, pode ser até que acorde um pouco e aquela coisa lá longe volte pra perto de mim**

Esses dias... frios

Tá eu vou tentar, prometo que vou tentar descrever aqui com minhas palavras esse momento da minha vida. Algumas pessoas não entendem que cada um tem seus ciclos, fases, enfim não importa como se chame, mas são pedaços de você, da sua vida. O meu mundo tá fechado pra visitasão, tá nublado, não sei quanto tempo ainda vou ficar, continuar assim, continuo gostando das mesmas coisas, das mesmas pessoas, das musicas de sempre.
Não é por que estou mais off, que amo menos tudo que me cerca. Preciso de um tempo, desse tempo, esvaziar os poros, limpar as saidas de emergência, recolher os entulhos e me reconstruir. Não preciso prvar nada pra ninguém... ando meio irritado com algumas coisas e me sinto no direito de responder, não tenho a menor intenção de ser simpático a certas pessoas e ponto.
Dizem que me escondo atrás das coisas que o Caio F. escreve, enganam-se , me encontro e não uso isso como escudo, como forma de proteção. E sim pra dizer muitas coisas que não consigo por medo, insegurança ou por tormentos internos, mas de qualquer forma não vou mudar, não mesmo. Meu coração dizem que está sangrando, sim realmente está, mas por favor vez em quando me deixem só, eu-comigo-mesmo. Eu preciso aprender a ser só.
Não consigo escrever mais nada, to com muita mas muita vontade de chorar, mas hesito, vou sair
preciso de ar puro e de alguns cigarros. Porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, nesse tempo, para ocupar meus dias**
Devia ser sábado, passava da meia-noite. Ele sorriu para mim. E perguntou:
- Você vai para a Liberdade?
- Não, eu vou para o Paraíso
.Ele sentou-se ao meu lado. E disse.
- Então eu vou com você.

Outra vez...

Eu sei que já disse isso mas repito por gosto de felicidade; quero a mesma coisa de novo e de novo.

Espaço em branco

"Sai correndo no parque e me joguei na água gelada de agosto, invadi sem ter direito a névoa dos canteiros, destaquei meu corpo contra a madrugada, esmaguei flores não nascidas, apertei meu peito na laje fria do cimento, a névoa e eu, o parque e eu, a madrugada e eu, costurado na noite cerzido no escuro porque me dissolvia à medida em que me integrava no ser do parque, e me desintegrava de mim mesmo, preenchendo espaços, aqueles enormes espaços brancos, terrivelmente brancos e você não teve olhos para ver que o parque era você, a água era você, a névoa você ,a madrugada você, as flores você, os canteiros você, o cimento você”

M...

Já não sei dizer se ainda sei sentir
O meu coração já não me pertence
Já não quer mais me obedece
Parece agora estar tão cansado quanto eu.
**
Até pensei que era mais por não saber
Que ainda sou capaz de acreditar.
Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem
**
Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Para algum país distante e
Voltar a ser feliz.
**
Já não sei dizer o que aconteceu
Se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu
Se meu desejo então já se realizou
O que fazer depois
Pra onde é que eu vou?
**
Eu vi você voltar pra mim.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Vai passar???

Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar um das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar.

...

Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuvase houver vento,
ou se eu estiver cansado dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas conhecidas pela casa
a mesa posta e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás de-fi-ni-ti-va-men-te
ou entãovisto minhas
calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rockaté cair".

Os dias.....

A cada dia viver me esmaga com mais força.

Quase sem sentir

As manhãs são boas para acordar dentro delas, beber café, espiar o tempo. Os objetos são bons de olhar para eles, sem muitos sustos, porque são o que são e também nos olham, com olhos que nada pensam. Desde que o mandei embora, para que eu pudesse enfim aprender a grande desilusão do paraíso, é assim que sinto: quase sem sentir.

Aniversario .... M.... uma pequena nobreza atrasada.

Cansado, cansado. Quase não dormi. E não consigo tirar você da cabeça. Estou te escrevendo porque não consigo tirar você da cabeça. Hesito em dizer qualquer coisa tipo me-perdoe ou qualquer coisa assim. Mas quero te contar umas coisas. Mesmo que a gente não se veja mais. Penso em você, penso em você com força e carinho. Axé.Te escrevo por absoluta necessidade. Não conseguiria dormir outra vez se não te escrevesseFiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena. Todas as cartas de amor são ridículas. Esse lugar confuso de que fala Caetano. E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti. Alguém me dizendo no ouvido “nunca vi essas luz nos seus olhos.
Fico tomado de paixão. Há tempos não ficava.
Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.

ps: Ah esqueci Feliz Aniversário (19 anos!!!)...

Avesso

Chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Meu Quarto

Podemos sair de casa há anos, e o quarto que abandonamos é conservado pelos pais. Não modificam uma vírgula de nossa letra. Não alugam, não fazem reforma, não mudam as estantes, não trocam a pintura, a fechadura e os tapetes. Nós alteramos a infância, não os pais, que em qualquer idade nos enxergarão pequenos. Nos enxergarão como se ainda fosse possível resolver a tristeza e a dor com um colo. Quando voltamos para residência familiar, separados ou exilados desempregados ou desencantados, descobrimos o quanto eles nos amam. Amam a criança que fomos. Nenhuma boneca foi jogada fora, enfileiradas pelo tamanho. Nenhum carinho desperdiçado. As canetas coloridas da escola guardam tinta. As agendas estão na gaveta, com as fotos dos amigos e as primeiras confidências. Os pôsteres das bandas de rock, que hoje nem fazem sentido, permanecem atrás da porta branca. As revistas proibidas seguem escondidas em uma madeira solta debaixo da cama. A mesma cômoda onde escrevemos cartas de amor e varamos a noite estudando para provas. O mesmo abajur preto, com problemas de contato. O mesmo enxoval, como se tivéssemos passado um longo final de semana fora (um final de semana que pode ter durado vinte anos), e retornássemos de uma hora para outra. O mesmo travesseiro com cheiro de nosso pijama. Os mesmos cabides e espelho. Até a pantufa nos aguarda, com a plumagem desalinhada de ovelha. Tudo em ordem e recente, a apagar que lacramos a porta com um adeus, a esquecer que viramos o rosto para sermos felizes com nossas famílias. Os filhos são dramáticos e se despedem com adeus, mas vão voltar e voltam, mesmo que seja para se despedir verdadeiramente. E não é apenas a aparência do quarto que resiste intacta. É o jeito como os pais nos tratam, sem censura e castigo, sem julgar as escolhas e precipitar arrependimentos. Em silêncio, a mãe fará o bolo de laranja predileto. Ruidoso, o pai perguntará se não queremos caminhar com ele. Ao sair, a mãe dirá para não esquecer o casaco, o pai avisará para nos cuidar e voltar cedo. O tratamento é idêntico, insuportavelmente idêntico à adolescência. A velhice não ameaça o amor. Apesar de confiarmos que somos outros, os pais continuam nossa vida. Não interessa a cor de cabelo, a tatuagem, o piercing, a cicatriz, a ferida, a alegria ressentida, os fios grisalhos e os divórcios, os pais acreditam que somos os mesmos. Somos as crianças que eles deixaram crescer

segunda-feira, 16 de março de 2009

Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.

Ninguém

Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.

**

Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara.Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram.":*

Meio Silencio

Águas de vidro à luz doentia da madrugada. Um vidro verde e fino refletindo longe o tremor das luzes da cidade. Aproxima lento o próprio dedo da ponta acesa do cigarro até senti-lo retrair-se num afastamento involuntário. O rosto do outro também parece feito de vidro.Um vidro ainda mais frágil que o da madrugada. Tem a impressão que se sair caminhando o ar irá quebrar-se em ruídos e estilhaços. A lua está tão bonita que dói por dentro, fala. Depois retrai-se como o dedo não queimado. Sempre o medo de chegar perto demais, de não poder voltar atrás, pensa, e solta devagar a fumaça pelas narinas
."Quer ouvir música? meus dedos avançam até o rádio. Um gesto e três palavras para encher o silêncio. Que de tão repleto não cabe em si mesmo. Mas ele diz não. Sua resposta me enche de uma brusca vergonha. Como se tivesse descido mais fundo do que eu, dispensando as facilidades que também são fuga. A luz da lua bate nas pedras, elas brilham feito mil luas brancas, mil luas ásperas, mil luas à beira de um céu-rio sem estrelas. Está tudo quieto - há quanto tempo? - e meus ouvidos já não descosturam do silêncio o rumor dos carros passando distantes na estrada.
"Olham-se, mas não se vêem. A escuridão não é uma parede, mas o silêncio os imobiliza na busca da palavra maior. Os dois fumam. As pontas acesas desvendam o escuro, e por instantes colocam um brilho avermelhado nas pupilas de ambos
.Perguntou se eu queria ouvir música. Não, eu disse sem pensar. Então ele calou como se tivesse ficado ofendido por eu recusar alguma coisa sua. Desconhecidos: como isso é, a um só tempo, terrivelmente bom e terrivelmente assustador. Pensar que eu estava só, no bar, esperando nem sei que, nem sei sequer se esperando: de repente os olhos me buscando no balcão em frente. Verdes. No primeiro momento foi a única coisa que percebi. Verdes, os olhos, atrás da fumaça, no meio das gentes, na frente do espelho. E o espelho refletindo o meu espanto. Depois vi os cabelos, a boca, os ombros. Mas era nos olhos, só nos olhos, que se fixava aquele mudo apelo, aquele grito. Nem sei. Aquela clara maldição. Saí, saiu. Não dissemos nada. Eu só tenho esperas. Ele traz a tranqüilidade de mais nada esperar.
"Um menino. Aquele ar espantado. Um pouco trêmulo. Cigarro atrás de cigarro. Tenho medo de tocá-lo. De quebrá-lo.
"Eu disse: a lua está tão bonita que dói por dentro. Ele não entendeu. É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar. Neste espaço branco de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em paredes pedindo exteriorização.
Você vê? as pedras parecem luas também. Ou estrelas, ele diz. Chão de estrelas. Vamos pisar nos astros distraídos? Ele ri. Nesse segundo cheio de riso alguma coisa se adensa. Nossos pés pisam em pedras. Mas por cima dos sapatos, sinto que são frias e duras, e sei que seu significado está em nós, não nelas. Uma vontade que a manhã não venha nunca. Vai voltar a grande busca. As noites vazias. Amargura de estar esperando. Repetir mil vezes: não quero esperar. E a certeza de que esse não querer já traz implícitas as longas caminhadas, o olhar devassando os bares, a náusea, os olhares alheios, a procura, a procura: seus ombros largos, um jeito de quem pisa mesmo em luas, não em pedras.
As sombras se projetam alongadas na praia deserta. Rumor de carros e faróis que devassam a noite sem achar.Pára de súbito, o corpo ferido por um sentimento indefinível. Precisa falar, precisa dizer.
Afinal, não foi para enfiar pérolas que você me trouxe aqui: eu digo. Ele está a meu lado. Então me olha sério, por um instante abalado, depois ri e diz: desista. Positivamente o cinismo não fica bem em você. E se com essa citação só quer mostrar que já leu Sartre, eu também já li. Por que feri? Por que feriu? Por que estamos dizendo coisas que não sentimos nem queremos?"Um menino assustado querendo mascarar o medo com a agressividade. Um menino.
Curvo-me para ele. Tão esguio que meus braços o rodeariam por completo. Por um instante ele ficaria inteiro preso dentro dos meus limites."O rosto dele próximo do meu. Mais adivinho do que vejo o verde dos olhos deslizando pelas órbitas. A sua mão toca no meu ombro, sobe pelo pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando devagar, vencendo barreiras, colando-se à minha, de leve, tão de leve que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Estou em branco como a noite. Ele me abraça. Ele está perto.Ergue o braço lentamente, afunda as mãos nos cabelos de outro. E de súbito um vento mais frio os faz encolherem-se juntos, unidos no mesmo abraço, na mesma espera desfeita, no memso medo. Na mesma margem.

...

Não consegui. Do grande esforço através dos doze meses, doze signos, doze faces, só guardo essa certeza. Que tonta travessia. Tudo bem, descansa. Faz parte, não conseguir. Como Sísifo, se queres mitologias. Queres ainda? Por favor, estou farto. Brilhos baratos, as jóias eram todas falsas. Está certo, mas não quiseram te fazer mal. O mal não existe reverso do bem. Tanto faz, só peço que me deixem. Vou ficar encostado na árvore até amanhecer. Olhos abertos, feito uma vela acesa. Se ela insistir, direi que não tenho piedade alguma. Que não compreendo, não aceito nem perdôo mais a loucura. Se ele vier, pedirei que fique. Serei bom para ele. Mentira, não pedirei nem direi nada a ninguém. É indivisível, aprendi. Talvez consiga dormir. Talvez consiga acordar amanhã finalmente livre de tudo isso. Terei apenas um corpo, poucos pensamentos, todos pequenos. Sei que foi inútil quando os vejo obstinados recomeçar e recomeçar sempre. Uma serpente que morde a própria cauda, um círculo infinito de enganos, Maya. Talvez não, perdeste a fé? Não te castiga assim, está tudo em paz. Nunca houve cães. É como uma cantiga de ninar nas cinzas do fim do mundo. Um barbitúrico, se preferires. Entorpece, melancólico, te leva para longe. Já se perdeu, não há futuro. Repousa, meu amigo. Deixa-me passar a mão nos teus cabelos. Está amanhecendo. Em voz baixa, eu canto para te enganar.

O dia que Júpter encontrou Saturno

-Você gosta de estrelas?
-Gosto.
Você também?
-Também.
Você está olhando a lua?
-Quase cheia. Em Virgem.
-Amanhã faz conjunção com Júpiter.
-Com Saturno também.
-Isso é bom?
-Eu não sei. Deve ser.
-É sim. Bom encontrar você
.-Também acho.

(Silêncio)

-Você gosta de Júpiter?
-Gosto.Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra"
.-Que é isso?
-Um poema de um menino que vai morrer.
-Como é que você sabe?

(Silêncio)
-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora
.-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

Tenho um dragão que mora comigo

Os dragões não cabem nesses pequenos mundos de paredes invioláveis para o que não é visível".Ele gostava tanto dessas palavras que começam com in - invisível, inviolável, incompreensível -, que querem dizer o contrário do que deveriam. Ele próprio era inteiro o oposto do que deveria ser. A tal ponto que, quando o percebia intratável, para usar uma palavra que ele gostaria, suspeitava-o ao contrário: molhado de carinho. **
**
No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pântano de antes, cheio de possibilidades - que não aconteciam, mas que importa? - a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada. incompreendida, rejeitada, desprezada. Os dragões não querem ser aceitos.

terça-feira, 10 de março de 2009

Pode

Pode me chamar de gay, não está me ofendendo. Pode me chamar de gay, é um elogio.. Ser gay me favorece, me amplia, me liberta dos condicionamentos. Não é um julgamento, é uma referência. Pode me chamar de gay, não me sinto desaforado, não me sinto incomodado, não me sinto diminuído, não me sinto constrangido. Pode me chamar de gay, está dizendo que sou inteligente. Está dizendo que converso com ênfase. Está dizendo que sou sensível. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me preocupo com os detalhes. Está dizendo que dou água para as samambaias. Está dizendo que me preocupo com a vaidade. Está dizendo que me preocupo com a verdade. Pode me chamar de gay. Está dizendo que guardo segredo. Está dizendo que me importo com as palavras que não foram ditas. Está dizendo que tenho senso de humor. Está dizendo que sou carente pelo futuro. Está dizendo que sei escolher as roupas. Pode me chamar de gay. Está dizendo que cuido do corpo, afino as cordas dos traços. Está dizendo que falo sobre sexo sem vergonha. Está dizendo que danço levantando os braços. Pode me chamar de gay. Está dizendo que choro sem o consolo dos lenços. Está dizendo que meus pesadelos passaram na infância. Está dizendo que dobro toalha de mesa como se fosse um pijama de seda. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou aberto e me livrei dos preconceitos. Está dizendo que posso andar de mãos dadas com os anéis. Está dizendo que assisto a um filme para me organizar no escuro. Pode me chamar de gay. Está dizendo que reinventei minha sexualidade, reinventei meus princípios, reinventei meu rosto de noite. Pode me chamar de gay. Está dizendo que não morri no ventre, na cor da íris, no castanho dos cílios. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou o melhor amigo da mulher, que aceno ao máximo no aeroporto, que chamo o táxi com grito. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me importo com o sofrimento do outro, com a rejeição, com o medo do isolamento. Está dizendo que não tolero a omissão, a inveja, o rancor. Pode me chamar de gay. Está dizendo que vou esperar sua primeira garfada antes de comer. Está dizendo que não palito os dentes. Está dizendo que desabafo os sentimentos diante de um copo de vinho. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou generoso com as perdas, que não economizo elogios, que coleciono sapatos. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou educado, que sou espontâneo, que estou vivo para não me reprimir na hora de escrever. Pode me chamar de gay."

Fabricio CArpinejar

A boa MAré

Ontem fui ver o show da Adriana Calcanhoto(25/09/2008), escrevi esse texto logoo que cheguei em casa, mas soa agora achei que deveria posta-lo, e ai vai ele.

Uma concha enorme, do lado esquerdo do palco, sem som dentro dela. Adriana vermelha como coral em maré cheia. Cavalos marinhos povoando o céu, mas não voando pelo mar adentro, nem cavalgando pelo fundo azul. As sereias imaginárias dançando notas de calypso, Waly Salomão em cada canto. Concreta esta moça, de letras bem feitas e olhos azuis. Distante de todos, e ao mesmo tempo declamando frases que parecem nos vestir perfeitamente.Impossível não querer entrelaçar dedos e sussurrar segredos diante de cada nova canção. Sensação daquelas de dejavú. Tudo parece ser minimamente planejado. Calcanhoto não tem muitos rompantes dentro dela. Toda sua fúria é dita comedidamente, pausamente e com meios-sorrisos. Não é fácil encantar assim, e sendo assim ela encanta. Sereia das boas, acredito eu.Ao sair da coxia, seu movimento não é de mar bravio. Serena e discretamente ela chega com seu olhar de viés. Sauda o público, a casa cheia : "Boa Noite São Paulo. Muito obrigada e boa noite... boa noite... é um prazer estar aqui. Vocês devem achar que eu digo isto em todos os lugares onde vou, e digo mesmo, só que aqui .... é de verdade". Luzes, palmas, gritos de todos. Dela, gestos mínimos , minimalista ela, quase um haikai. O néon corta o palco de um lado ao outro, verde relâmpago, lua cheia. E a água insiste em ficar lá, parada. E, os cavalos marinhos, permanecem no céu, decalcados. Em movimentos lentos, quase nada, poesia em dó-menor. Cada fim de canção, o corpo projetado pra frente, a canção entre dentes, os efeitos marinhos apenas na roupa ondulante.O choro da cuíca, o violoncelo entre as pernas, um Verão in rock, um samba pra Martnália. O ar quase blasé, Esquadros misturado a Três... Assim Sem Você e assim Sem Saída... um show inteiro de canções novas, canções conhecidas.Essa moça tem um jeito de comover que assusta. Na boca dela as palavras parecem mais frias, quase cortantes. De fino humor, imagino-a às vezes, presa num poema dos Anjos (do Augusto), aquele que escreveu A Louca "Quando ela passa: - a veste desgrenhada, O cabelo revolto em desalinho, No seu olhar feroz eu adivinho O mistério da dor que a traz penada. Moça, tão moça e já desventurada; Da desdita ferida pelo espinho, Vai morta em vida assim pelo caminho, No sudário de mágoa sepultada. Eu sei a sua história. - Em seu passado Houve um drama d’amor misterioso - O segredo d’um peito torturado - E hoje, para guardar a mágoa oculta, Canta, soluça - coração saudoso, Chora, gargalha, a desgraçada estulta."Não sei bem o que é, que nela que fascina e que adormenta. Tenho a sensação que dentro dela há uma tristeza escondida. As melodias são quase sempre doridas e as perdas inimagináveis. Mesmo quando ela tenta comer Caetano, a antropofagia não mistifica o prazer. É um tanto quanto, de Teu Nome Mais Secreto... "Cavo e extraio estrelas nuas de tuas constelações cruas"...E, de dentro dela, parece brotar esta imensidão de imagens, estes fragmentos de memórias, estas cores de Frida que claram cores. Em sua maré, traz Continentino com uma escaleta ao fundo e, Medina cálido diante de Lancellotti e, de Costa em sons profundos.Há instantes, que dá uma vontade danada de chorar. Sabe-se lá porque... canto de sereia é assim, chama a gente e não espera para partir. De letra em letra, vamos mapeando nossos sentimentos e nos apropriando de notas e de canções, envoltos pelo mesmo mar, pela mesma luz.Finda o show com Vambora e cantarolando baixinho "na cinza das horas... dentro da noite veloz" tenho a sensação de quase ouvir um poema antigo (de Drummond) que termina assim "Eu não devia te dizer , mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo" .Linda e delicada, reverencia o público como se Pequeno Príncipe fosse. E, em minhas lembranças, agora mais do que antes ela é a rosa, não o Príncipe que viaja por espaços siderais, mas a pequena rosa, presa na redoma com toda sua altivez e ainda assim capaz de tanta poesia dentro dela."Meio mulher, meio peixe, entre o fundo e a beira, e que detém o canto, no sentido de canto primeiro, do nascimento do canto, anterior à palavra - Adriana Calcanhoto"

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Isso tudo

Uma vida toda para dentro lendo, escrevendo, ouvindo musica.
Continuo sendo o mesmo de antes, de alguns meses atras, de alguns anos quem sabe. Mas disso
tudo dessa loucura desenfreada toda toda que chamamos difusamente de nossa vida, sempre existem
migalhas, lascas partidas, deixadas em algum ponto, em algum pedaço partido.
Sempre sobram. Sempre.
No fim das contas, no fim de tudo isso, voce se encontra, se busca, navega pelas aguas
mais profundas desse mar sem fim , pra encontrar algo, qualquer coisa onde possa se agarrar,
qualquer laço, qualquer relaçao por menor que seja. Sempre precisamos.
As vezes, quase sempre, precisamos de nos mesmos.
Tudo ja passou e a minah vida nao passa de um ontem nao resolvido.
Aperto, apertando.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Caio F.

Primeiro texto, ah sei la pensei em varias coisas, pessoas, lugares, coisas...
e dentro dessa confusão toda, penso em Caio F., sim em Caio
e é dele a primeira postangem do meu blog.
Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê.Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.**